A presente Antologia constitui, sem favor nenhum, importante tesouro literário. Publicada inicialmente em 1966, foi um arrojado empreendimento de Natália Correia, levando-os (a ela, ao seu editor e outras pessoas) a ser condenados em Tribunal Plenário.

Esta quase mítica Antologia reúne autores que vão de MArtim Soares, do século XIII, aos nossos contemporáneos, alguns dos quais ainda vivos. Inclui nomes célebres e inesperados, tais como Camilo, Atero ou Pessoa, e uma plêiade de autores menos conhecidos ou mesmo completamente ignotos, cujo estro nos deixa maravilhados, não só pela ousadia de que dão provas como fecunda arte literária que revelam.

Ao mesmo tempo, esta Antologia é um documento mental, revelando-nos como a liberdade de expressão se foi alterando ao longo dos séculos, e não necessariamente no sentido progressivo que poderíamos conceber. Muito mais franco e aberto até ao século XVIII, associado a uma desbragada alegria de viver que, por contraste, projecta sobre os séculos posteriores, e especialmente sobre o nosso, a visão dum paradoxal acanhamento, verificando-se que a modernidade nem sempre é sinónimo dum maior arrojo artístico.

Expondo bem, aliás, como o nosso tempo se foi tornando pesadamente asséptico e conformista, os cultores modernos dessa tradição erótico-satírica são hoje raríssimos e, a avaliar pelo mais criativo dentre eles, Alberto Pimenta, organizadamente ignorados.